quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Amor eterno: é paciente, é bondoso, não maltrata, tudo suporta.


Em menos de uma semana, passei por varias provas de sentimento, sentir a alegria, emoção, realização com o sétimo titulo da Lenda do tucumã este ano, titulo inquestionável para os jurados e pela população aripuanense. Foram dias e horas de dedicação em prol da cultura tucumãense.
Entretanto passei da euforia para tristeza com a perda do ser humano mais importante da minha vida. Manoel Palheta Filho (Fuluquinha) faleceu domingo dia 03 de outubro de 2010, vovô Fuluca como era conhecido entre os familiares, sofreu seis anos com a perda de sua esposa Geni Lobo em 2004, historia que deve ser contada e seguida como exemplo a vários casais.
Quando meu avô era adolescente seu pai faleceu, então ele passou a cuidar de sua mãe, ser o responsável pelo sustento da família. Conheceu minha vô através dos irmãos dela, se apaixonou no primeiro momento e escolheu para ser sua cara metade, casou-se logo em seguida, mas não abandonou sua mãe em nenhum momento.
Com minha vó teve duas filhas Leonice Lobo Palheta e Leonor Brazão Palheta, foi agricultor, seringueiro, juteiro, comerciante, vigia. Sofreu muito com a perda de seu amigo Nerino Lobo (pai do finado Julio Cesar) com quem tinha uma grande amizade e afinidade. Sempre tinha o pensamento avançado para aquele tempo, tanto que se preocupava com a educação de suas filhas, colocou as duas para morar nesta cidade na casa de seu amigo Antenor Brazão mesmo sendo analfabeto valorizava a educação escolar, pois era amigo do saudoso professor Joaquim Canamari Gualberto.
Com o nascimento de seus dois netos, Greice e Gilmar, Manoel e Geni passaram a educar, cuidar, se dedicar a eles, Greice foi registrada em seu nome. Era um homem da floresta, gostava de trabalhar na mata, assim mudou-se para uma localidade chamada Parana dos Araras. Lembro que eu e Greice andávamos junto a eles, eu dentro do paneiro na costa de minha vó e Greice como um macaco na costa do meu avô. Ficava observando ele ará a terra e plantar, fazer um espantalho para espantar os ladrões que furtavam os produtos dos agricultores.
Chegava em casa cansado, mas logo pela madrugada saia para retirar o látex da seringueira, após chegar do caminho, ia junto a minha vó para a beira do igarapé colher juta, ficávamos dentro da canoa observando o sacrifício que meus avos faziam para sustentar a família. A exploração dos regatões era deplorável muitos agricultores adoeceram por conseqüência das condições desumanas de trabalho.
Lembro que meu avô comprou duas cadeiras de embalo, dessas de “macarrão” e que para pagar teve que trabalhar por vários meses lavando juta. A exploração dos donos de regatão era miserável, na maioria das vezes o ribeirinho ainda ficava devendo. Meus avós foram explorados e ficaram com a saúde debilitada devido as más condições de trabalho. Devido ao cansaço e com medo de acontecer algo com os netos Dona Geni e Fuluca resolveram morar em Novo Aripuanã junto as suas filhas. Compraram uma casa na Rua Getulio Vargas, próximo a casa de seu compadre Antenor Brazão.
Por alguns meses voltavam para o Paraná dos Araras, entretanto Manoel Palheta conseguiu se empregar como vigia no antigo órgão ITERAM. Lá fez vários amigos, como Horlei, Galo, Pacú, Dona Magui, dentre outros que vieram de outros Estados junto ao projeto esperança. Com o dinheiro de funcionário publico Fuluquinha montou um comercio chamada Mercearia Palheta, vendia estivas em geral e bebidas. Ganhou muito dinheiro infelizmente sua esposa adoeceu de diabetes e de uma doença proveniente da extração de juta. Quando minha vó foi para Manaus fazer o tratamento, meu avô abandonou tudo e ficou junta com minha vó internada no Hospital Tropical de Manaus, foi sacrificoso para ele, dormia nos bancos do hospital, na praça de alimentação do Dom Pedro, ficou quase dois meses junto a ela.
Após o tratamento realizado em Manaus Fuluca voltou a Novo Aripuanã e passou a cuidar e dedicasse unicamente a sua esposa, fazia comida, dava banho e realizava todas as vontades de minha vó. Tinha o maior zelo até que em setembro de 2004 minha vó veio a falecer, foram 15 anos de dedicação, cuidado, caridade, altruísmo, tolerância, solidariedade, paixão, afeto e AMOR eterno.
Abdicou de sua vida para viver exclusivamente a vida de sua amada. Entretanto o seu coração enfraqueceu e sua vida já não tinha significância. Único momento que fazia com vigor era ir ao cemitério novo rezar e zelar pela sepultura de minha vó, logo após o sepultamento, seu itinerário era todos os dias às 16 horas caminhar até o cemitério, não tinha chuva nem sol que atrapalhasse a sua dedicação. Nunca esqueceu sua esposa, amiga, companheira, que em todos os momentos estava a seu lado.
Sofreu por Seis (6) anos de complicações no coração, vários médicos deram diagnósticos, mas meu avô sofria do mal do “coração partido”, saudade, memória, recordação, nostalgia, lembrança da única mulher de sua vida. Seu sofrimento era visível, muitas pessoas que viam seu Manoel ir quase todos os dias ao cemitério perguntavam se ele estava doente, pouco a pouco seu coração foi ficando cansado, sempre dizíamos para ele realizar tratamento em Manaus, mas não queria deixar de estar do lado de sua esposa.
Era um homem religioso, mesmo doente gostava de ir à igreja e das procissões realizadas em Novo Aripuanã. Era devoto de Santo Antonio de Borba, Nossa senhora da Conceição e São Jose, lembrava das ladainhas de quando era novo.
Este ano há mais ou menos dois (2) meses e meio atrás o meu avô ficou mais fraco devido à depressão e a doença no coração, foi hospitalizado no hospital de Novo Aripuanã por alguns dias, então logo após sua alta meu avô fez questão de viajar de avião para Manaus, sendo que ele tinha pavor na hipótese de viajar de avião. Entretanto sentíamos que nosso avô estava se despedindo da família, mesmo doente nunca deixou de brincar e tirar sarro da cara dos políticos aripuanenses, aconselhar, recomendar, advertir principalmente os menos ajuizados.
Aprendeu a ler e escrever sozinho era alto de data, pois realizar todas as operações de matemática tirava até porcentagem nos produtos vendidos, era um senhor do seu tempo, tinha opinião formada sobre tudo e as defendia com veemência, principalmente sobre política.
Tudo que eu e minha irmã somos agradecemos a ele e minha vó, que dedicou sua vida a nos educar, sempre que eu lhe visitava o encontrava lendo sua bíblia ou na sua caderneta somando os fiados. Um dos trechos marcados de sua bíblia verificou uma parte que fala sobre o amor: “... O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre tudo crê, tudo espera, tudo suporta...” (Coríntios 13, 4-7).
Este trecho da bíblia enobrece o sentimento entre Dona Geni e Manoel Palheta, o amor entre os dois era recíproco, minha vó era um ser humano inigualável era dedicada a seu esposo, amava-o incondicionalmente. Poucos são os casais que amam com tanta intensidade, que suportam as diferenças, que tudo sofrem, mas que não maltratam que vivenciam cada momento com vigor.
No dia 03 de outubro meu avô faleceu em Manaus, e foi sepultado junto a sua esposa amada, sempre que conversava com ele questionava, porque você teve apenas duas filhas? E que nossa família era muito pequena. Entretanto sempre brincava que as duas filhas valiam por mil filhos e que tinham sido geradas com muito amor. Nossa família hoje esta luto pela perda do patriarca, do alicerce do nosso lar, e ficamos com um vazio em nossos corações que nunca será preenchido. O que nos conforta é que ele deve está junto a sua amada, e que nos consola é a força que os amigos de nossa família demonstraram em estender um ombro amigo no momento mais difícil de nossa vida. Saudades de Manoel Palheta e Geni Lobo...

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