segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Padre Ramiro: “Uma história de Amor e Fé!"(Aquiles)


Novo Aripuanã é uma cidade fundada e povoada por católicos, desde a sua fundação as primeiras manifestações religiosas começaram a surgir, Nossa Senhora da Conceição é a padroeira do município que também possui outros Santos como São José, Santo Antonio Maria Claret, Divino Espírito Santo, São Sebastião, e outras comunidades católicas que cresceram com o passar dos anos. Muitos Padres, Freiras, Missionários, Seminaristas e Religiosos passaram por aqui, o pároco fundador da Igreja de Nossa Senhora da Conceição foi Padre Bento, antes dele um antigo morador da cidade chamado Torquato Pereira de Magalhães havia construído uma pequena capela em homenagem a nossa padroeira, de lá pra cá a Igreja Católica cresceu muito, depois de padre Bento veio uma ordem religiosa vinda dos Estados Unidos que se espalhou por todo o Rio Madeira colonizando e catequizando fiéis, era a chamada 3ª Ordem Religiosa, foi nesta época que vieram Frei Júlio, Frei José, Frei Paulo e Frei Matheus, além de freiras importantes como: Irmã Joana, Irmã Helena e Irmã Ana Maria, esses foram os grandes precursores da religião católica em Novo Aripuanã, eles foram grandes desbravadores, muitos deles trabalharam diretamente na construção e ampliação das primeiras ruas do nosso município, bem como o aeroporto e outras obras importantes ao lado do primeiro Prefeito Wilson de Paula, Frei Júlio, por exemplo, dirigia pessoalmente um enorme trator, abrindo ruas e ajudando a construir o nosso município, as irmãs marcaram o começo de uma época rica em aprendizados religiosos e aprendizados para a vida, Irmã Joana, por exemplo, foi uma das fundadoras e administradoras do primeiro hospital da cidade, foi responsável por cuidar das pessoas com amor, carinho, respeito e dedicação, coisa que hoje é muito rara. Os grupos de jovens dessa época eram formados por pessoas de famílias tradicionais de Novo Aripuanã e muitos que tinham acabado de chegar do interior, certamente por influência desta época, Frei Bosco Colares (Pároco da cidade de Nova Olinda do Norte) e a Irmã Socorro Colares (Freira) seguiram o glorioso caminho sagrado do catolicismo, aqueles jovens que na sua grande maioria haviam acabado de chegar do interior, viam na Igreja e na obra do Senhor Jesus Cristo a única maneira de ser alguém na vida, estudar se preparar para o futuro e crescer dentro de fortes princípios éticos e religiosos, através da igreja, dezenas de jovens conseguiram através da Igreja estudar em Manaus nos colégios de freia ou seminários de preparação para a formação de padres, nessa época de ouro da igreja católica eram comuns viagens para outros municípios, bem como retiros espirituais, festas religiosas, promoções e encontros de jovens sempre com muita alegria, muita fé, respeito e amor ao próximo.
Depois da passagem desses religiosos por Novo Aripuanã, vieram muitos outros que também marcaram sua passagem pela nossa cidade como Padre Marcos, Irmã Corina e outros, mas certamente o que mais marcou a história católica de Novo Aripuanã foi o Padre Antônio Ramiro Benito, Advogado de profissão e Padre por vocação, ele veio da Espanha para o Brasil por volta do ano de 1975 quando foi ordenado Padre, em 1976 foi enviado para missão na Cidade de Goianésia-Go, onde desenvolveu um brilhante trabalho na capela Imaculado Coração de Maria hoje Paróquia Sagrado coração de Jesus, por lá ele renovou a catequese, trabalhou com os jovens, esteve presente e foi presença na ação social daquela paróquia. depois veio para Novo Aripuanã em meados dos anos 80 e ficou à frente como líder da Comunidade Católica por 26 anos dos 42 anos de existência da Igreja Nossa Senhora da Conceição, sua passagem foi marcada por muitas polêmicas e uma verdadeira história de amor e ódio com o povo de Novo Aripuanã. Padre Ramiro sempre foi um homem a frente de seu tempo, sempre lutou com unhas e dentes pelo desenvolvimento de sua paróquia sem nunca esquecer do desenvolvimento cultural, intelectual e espiritual de seu povo, ele ajudou a formar várias gerações de jovens aripuanenses e foi o grande responsável por reformas estruturais importantes na igreja católica local, ele tinha uma característica muito marcante e bastante peculiar, não sabia ficar calado diante das injustiças e das coisas erradas, em seus sermões na igreja não deixava ninguém dormir, não hesitava em “ralhar” ou dar bronca em mães e pais que deixavam seus filhos chorando, gritando ou perturbando na hora da missa, bem como não perdia uma oportunidade de reclamar e falar sobre os problemas sociais, políticos e religiosos que assolavam a cidade, naquela época a igreja era o grande ponto de encontro da sociedade aripuanense, a missa de domingo era freqüentada por grandes autoridades, políticos e religiosos, por isso ele não deixava barato e aproveitava para expressar toda sua indignação diante dos problemas que a população enfrentava, por isso, fez muitos inimigos, recebia constantes ameaças de morte devido às denúncias que ele fazia contra os madeireiros e grileiros de terras, em certa ocasião chegou a ser preso quando organizou um protesto contra o então governador Gilberto Mestrinho que dava motosserras para os caboclos, o interessante é que já naquela época o Padre Ramiro já se preocupava com questões ambientais, certa vez declarou a uma revista: “O Rio Madeira, que banha Novo Aripuanã, é o "rio Nilo" do Amazonas. "Nas margens desse rio rico de peixes de todas as espécies, em se plantando, tudo dá", "Mas se continuar com essa devastação, que a gente avisa, alerta, e não é ouvido, as secas vão ser piores a cada ano”. E hoje quando olhamos a praia cobrir totalmente o Rio Madeira do encontro das águas em frente a cidade, sabemos que ele tinha razão. À frente da comunidade católica, Padre Ramiro fortaleceu os grupos religiosos, criou várias Comunidades nos bairros, formou grupos de leigos em catequistas, aumentou o rebanho de fiéis, fundou células e grupos de jovens da igreja de onde saíram grandes personalidades, grupos como: PASTORAL DA JUVENTUDE, VOCACIONADOS, JOMECRIS, JUNSC, GALVI e outros que foram muito importantes para resgatar e livrar os jovens das bebidas e das drogas, além de proporcionar aos mesmos, oportunidades de ascensão cultural e espiritual, o Padre Manoel Cardoso (Pároco de uma Comunidade em Nova Olinda do Norte) pertenceu a um desses grupos religiosos, naquela época os jovens se interessavam pela igreja, lutavam por uma vaga na catequese, se orgulhavam em pertencer a um grupo da igreja, eventos importantes como BATISMO, PRIMEIRA COMUNHÃO, CRISMA e as SANTAS MISSÕES eram prestigiados por centenas de fiéis, assim como a Procissão e a Canoa de Entrada da Nossa Padroeira Nossa Senhora da Conceição que parava a cidade e só perdia para os Festejos de Santo Antônio de Borba. Padre Ramiro realizou centenas de casamentos, batizados, crismas e primeiras comunhões, ajudou a formar muitas famílias e a guiar os filhos destes casais pelo caminho do cristianismo e da fé, ninguém pode negar que ele contribuiu muito para o desenvolvimento intelectual e espiritual de muitos jovens, bem como ficou marcado por grandes realizações, dentre muitas podemos citar a implantação da Rádio Comunitária Tucumã FM juntamente com o então Padre Zé Maria, a rádio existe até hoje e presta importantes serviços à nossa comunidade. Muito influente e respeitado por empresários, comerciantes políticos e religiosos, gozava de privilégios junto a organizações governamentais e não governamentais, ou seja, as chamadas ONG`S, e foi justamente através dessas parcerias importantes que ele ajudou a realizar grandes obras em Novo Aripuanã como a construção da Unidade Mista de Novo Aripuanã que foi construída na época do então prefeito RAIZ e que contou com recursos de uma ONG Espanhola, do Governo Espanhol, do Governo do Estado do Amazonas e da Prefeitura Municipal de Novo Aripuanã, na época do então governador Amazonino Mendes veio pessoalmente inaugurar a obra e ficou impressionado com a grandiosidade da obra e entregou um hospital construído e equipado com tecnologia de ponta só antes vistos na Europa e EUA, em seu discurso na inauguração o governador lamentou a derrota do prefeito RAIZ que havia perdido a eleição para ADIEL SANTANA e disse que o povo só tinha a perder. Outras obras também foram erguidas através de padre Ramiro como o projeto MANOS UNIDAS, uma espécie de “fazenda esperança” aos moldes locais, lá eram cultivadas grandes plantações, hortas, criação de galinhas, ovelhas, carneiros, porcos e outros animais, bem como servia de local para cursos diversos e encontros dos jovens da Igreja, Ramiro também conseguiu um terreno na estrada e lá construiu uma fazenda que possuía várias cabeças de gado, Ramiro era um pároco moderno, informatizou a Igreja e foi um dos primeiros a possuir Internet na cidade, através da doação de políticos, conseguiu um carro modelo Jeep Land Rover para a Paróquia. Outra ajuda que Ramiro conseguiu para a comunidade foi o patrocínio junto a empresários para a reforma e ampliação da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, através dele foram comprados instrumentos musicais, novos bancos, novas imagens, novos ventiladores e luminárias, ele também conseguiu a construção do Educandário, da casa das freiras e da casa paroquial, O empresário conhecido como Chico Gogó dono da Transportadora Aripuanã foi durante muitos anos o maior patrocinador dos Festejos de Nossa Senhora da Conceição, era também responsável todos os anos pela reforma e pintura da paróquia, sua última contribuição foi a doação da nova imagem de Nossa Senhora da Conceição, do lado de fora da paróquia mandou construir uma espécie de presépio,corêto ou memorial com uma imagem da Santa padroeira em cima de uma canoa e dois fiéis rezando em frente à imagem.
A última grande obra feita por Ramiro foi a construção da Quadra da Paróquia, um projeto que demorou anos para ser concluído, mas valeu a pena esperar, hoje é uma das obras mais importantes do nosso município, é uma quadra coberta oficial que possui grandes arquibancadas, vestiário com banheiros, pias e espelho, palco para palestras e eventos, uma área externa com um amplo estacionamento, um enorme jardim, além de várias salas de aula para o ensino da catequese, encontro de jovens e abrigo para os visitantes, em fim, um complexo esportivo, cultural e educacional que servirá para várias gerações de jovens aripuanenses, essa obra foi realizada em parceria entre o governo do estado e a prefeitura municipal, mas tudo com intermediação de Padre Ramiro que é muito amigo do Ex-Governador Eduardo Braga e do atual Prefeito de Manaus Amazonino Mendes, foi através do seu prestígio com políticos e grandes personalidades que ele conseguiu muitas coisas para a Comunidade Católica de Novo Aripuanã, e por isso gozava de grande prestígio junto à Diocese de Manaus e a Prelazia de Borba onde é membro, com a morte do Bispo Dom José Afonso Ribeiro, assumiu o Bispo Dom Eloi Roggia que abriu uma investigação para avaliar a administração de Ramiro e apurar todas as denúncias contra ele, não soubemos o resultado oficial dessa investigação, mas a saída de Ramiro e sua transferência para a pequena Comunidade de Canumã pertencente ao município de Borba, foi vista por muitos como uma punição, Uma vez que ele não escondia de ninguém que se um dia saísse de Novo Aropuanã, gostaria de retornar à Goianésia-Go cidade onde ele começou o sacerdócio.
Com toda essa história, por todas as realizações e contribuições que Padre Ramiro fez ao longo de 26 anos à frente da Igreja Católica de Novo Aripuanã, ele bem que merecia ser canonizado como o primeiro Santo Aripuanense, não fossem as várias denúncias e acusações atribuídas a ele, dentre estas, alguns episódios entraram para a história de Novo Aripuanã, nos anos 80 Padre Ramiro foi acusado de esconder dentro da Paróquia um sindicalista chamado Jaime que estaria ameaçado de morte por políticos locais, Ramiro negou até a última hora que soubesse do paradeiro de Jaime, a farsa só foi descoberta já no aeroporto da cidade quando o homem tentava embarcar num avião para Manaus disfarçado com barba postiça e Bíblia na mão, ele teria sido protegido e levado ao aeroporto por Ramiro, mas entrou no avião errado e foi reconhecido, em seguida rapidamente ele foi para outro avião de onde foi embora e nunca mais apareceu, este episódio irritou bastante alguns políticos da época que cortaram laços com a igreja desde então. Mas esse não o único bandido que Ramiro escondeu na Igreja, ele ajudou a livrar da cadeia e acolher o senhor Cláudio, assassino da Sindicalista Sebastiana Melo, morta em um acidente automobilístico “muito suspeito” na estrada de Novo Aripuanã. O caso envolvendo a morte de dona Sabá como era conhecida, a Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, se deu em condições no mínimo suspeitas, tudo começou porque ela era membro da ASCOMI (Associação Comunitária dos Moradores do Interior) que tinha como Presidente o senhor Joaquim, pai de Cláudio assassino de Sabá, a sindicalista teria descoberto um esquema de superfaturamento na compra de carneiros, ovelhas e até na compra de um barco para a Associação, Padre Ramiro teria facilitado o esquema e também fazia parte do Conselho da Associação, pois era ele quem ajudava a fazer os projetos, mas a sindicalista, muito curiosa e esperta, descobriu o esquema a tempo e ameaçou denunciar ao Ministério Público,não deu tempo, Sebastiana Melo foi atropelada numa estrada de barro em uma curva estreita próximo ao Bacaba na estrada que liga Novo Aripuanã ao Apuí, ela vinha de seu rancho acompanhada de seu sobrinho e sua filha menores de idade na época, as crianças contaram que eles avistaram o carro de longe, foram para a beira da estrada, mas estranhamente o veículo veio na direção deles e não desviou, a sindicalista morreu na hora, a morte de Sebastiana Melo causou grande comoção social, centenas de pessoas compareceram ao seu funeral que teve destaque na imprensa de local e Internacional, a notícia correu o Brasil e o mundo, pois ela era uma sindicalista muito atuante e preocupada com as causas sociais e ambientais do município de Novo Aripuanã, representantes do PFL, PT, CUT, FETAGRE, PC do B e até dos Direitos Humanos se manifestaram condenando o episódio, mas o que mais revoltou a população foi que no dia seguinte depois do acidente que aconteceu num domingo, o assassino foi solto beneficiado por habeas corpus conseguido com muita rapidez através Padre Ramiro que além de livrar o rapaz da cadeia, ainda acolheu ele e toda a sua família na igreja e mais tarde na sede do Manos Unidas, não ouve nenhuma investigação por parte da Polícia, nem do Ministério Público, não houve nenhuma reconstituição, ninguém foi punido e o caso está até hoje sem solução.
Ramiro também já foi acusado de ter se beneficiado de projetos que ele teria feito para conseguir dinheiro de ONG`S e de Programas do Governo do Estado, ficamos sabendo que na época um grupo de Vereadoras de Novo Aripuanã foram até Manaus na SEAS (Secretaria de Assistência Social) do Governo do Estado procurar a então Secretária Sandra Braga, a fim de firmar um convênio para conseguir incentivos e a implantação de Programas de Cursos de Qualificação Profissional, Corte e Costura, Artesanato e outros voltados para as mulheres em Novo Aripuanã, mas para a surpresa das mesmas, elas ouviram que não poderiam conseguir tal convênio pois o município já havia sido beneficiado através de Padre Ramiro e da ONG Manos Unidas, mas esses cursos nunca foram aplicados na prática, algumas pessoas ligadas à Paróquia Nossa Senhora da Conceição acusam o padre de ser gastador, centralizador, de manter muitas pessoas morando na Igreja gerando grandes despesas de energia e telefone, as más línguas dizem que teria tido um caso com algumas jovens da cidade que ele teria inclusive, pago a moradia e a educação das mesmas em Manaus, na época, elas ficaram conhecidas como as “Rolinhas do Padre”, mas nada ficou provado, o fato é que Padre Ramiro sempre incomodou muita gente, ele já foi acusado inclusive por outros padres, de ser inflexível e de não dar espaço para eles trabalharem, ele teria dificultado por anos a entrada de freiras na paróquia, queria se perpetuar no poder à frente da Igreja e se valia da grande influência que tinha junto aos políticos e ao alto Clero da Igreja Católica local, a verdade é que mesmo com todos os rumores e acusações contra Ramiro, ele sempre teve muita moral com os Bispos e Arcebispos, a Paróquia de Novo Aripuanã era uma das que mais davam lucro depois da Igreja de Santo Antonio de Borba, por isso Ramiro era quase intocável. Atualmente Ramiro faz parte da Comunidade Foz do Canumã onde os moradores nos disseram que estão felizes com sua presença e não poupam elogios ao Padre, naquele lugar o festejo cresceu muito, a Comunidade Católica se fortaleceu, novos grupos de jovens foram criados, alguns projetos para o desenvolvimento local já foram implantados, e com tudo isso algumas perguntas são inevitáveis: Na verdade quem era o problema na Igreja de Novo Aripuanã? Padre Ramiro ou a inveja, a ganância pelo poder ou as fofocas intermináveis? Será que nós perdemos ou ganhamos com a saída de Ramiro? Quem mais se beneficiou com sua saída? Até que ponto a política teve ou não influência nesse processo? As respostas estão dentro de cada um de nós, cabe a você leitor e morador analisar os fatos e tirar suas conclusões, não estamos aqui para falar bem ou mal de Padre Ramiro, notem que nós falamos os prós e os contras sobre ele, bem como procuramos relatar a história para que o leitor possa compreender o presente e enxergar o futuro, há quem veja melhoras, há quem defenda a alternância de poder para o fortalecimento da democracia e das instituições católicas em nosso município, há quem sonhe com a vinda de Padres da terra como Frei Bosco e Padre Manoel Cardoso, mas segundo as leis da Igreja Católica isso não é possível, acho que eles pensam que Santo de Casa não faz milagre.
Atualmente a Paróquia Nossa Senhora da Conceição tem um novo Pároco, o padre Indiano Judas Tadeu, que tem enfrentado um grande desafio desde a sua chegada, primeiramente foi a barreira do idioma, falar português não é fácil nem para os brasileiros ainda mais para os indianos, depois foi a rejeição do povo que estava acostumado com Padre Ramiro, sem contar a adaptação aos costumes, ao modo de vida e principalmente aos problemas da cidade de Novo Aripuanã, não deve ter sido fácil, de repente o novo Padre se Com diversos problemas de ordem social, cultural, econômica e religiosa, mas é preciso dizer que esta rejeição aos padres Indianos é perfeitamente compreensível, uma vez que a mesma coisa aconteceria se fosse o inverso, já pensou se um índio amazonense foi designado para ensinar Hinduísmo na Índia? Seria muito difícil para eles aceitarem tal fato, só aqui mesmo em Novo Aripuanã que o povo aceita tudo calado sem reclamar, por isso, por mais que os padres indianos sejam capacitados e tenham estudado o sacerdócio, não é o bastante para conquistar a confiança ou a simpatia de um povo, este ano ele recebeu muitas críticas durante os Festejos de Nossa Senhora da Conceição, a falta de organização, a dificuldade de comunicação, a falta de sintonia com a comunidade e a inércia diante dos problemas sociais da cidade fazem com que o desafio do novo padre seja ainda maior.
Algumas Comunidades Católicas e até alguns vereadores já foram pedir ajuda do Bispo responsável pela prelazia de Borba, Dom Elói para mandar um padre brasileiro para Novo Aripuanã, mas ao contrário do que foi pedido, já chegou mais um padre indiano, este não consegue nem ler direito a Bíblia, com isso algumas pessoas estão se afastando da Igreja, a reclamação é geral, eles dizem que não conseguem entender o que eles falam e que eles não passam a mesma confiança e a fé que Ramiro passava. Com isso, a perda de grande parte do rebanho de fiéis católicos é visível, nas missas, nos cultos religiosos, nos grupos de fé católica da igreja, a perda foi substancial, algumas pessoas ouvidas por nós, denunciaram o abandono e o sucateamento dos bens da Igreja deixados por Ramiro, a Fazenda está totalmente tomada pelo mato, a sede do Manos Unidas está abanada, não tem mais nada, o Barco da Paróquia está se acabando nas pedras na beira do barranco, o novo Padre é acusado de ser “fome de dinheiro”, ganancioso e “pão duro”, não faz rodeio na hora de pedir dinheiro da comunidade, e diferente de Ramiro é totalmente alheio aos problemas da população, A Igreja Católica que sempre foi um poder político e religioso ao longo de todos esses anos em nosso município, agora assiste a tudo calada e sem nada fazer para mudar esta triste realidade que vive o povo de Novo Aripuanã.
Opiniões à parte, o novo Padre já melhorou bastante e tem se esforçado para fazer um bom trabalho, mais aberto e atencioso, ele tem conseguido vitórias importantes à frente da Igreja, os Festejos Religiosos de todas as Comunidades e de Nossa Senhora da Conceição apesar das dificuldades, foi um sucesso de público e lucro, recentemente ele conseguiu a pintura da Igreja Matriz e já tem se aproximado mais da população, de sua gestão participam mais três freiras que prestam ótimos serviços à população, seus sermões melhoraram muito, ele está com uma linguagem mais compreensível e tem conseguido contextualizar seu discurso com a realidade local, mas para isso ele conta com a colaboração fundamental de católicos e devotos tradicionais de Nossa Senhora da Conceição, como as famílias: COLARES, CARVALHO, RODRIGUES, CARVALHO, MAR, CARDOSO, etc... Além de muitas outras e de todas as Comunidades de todos os bairros da cidade que têm ajudado direta ou indiretamente nesse processo de transição e adaptação dos novos padres à frente de nossa paróquia, não fosse o empenho e a dedicação dessa gente, certamente ele não teria conseguido. Também é importante lembrar que assim como muitas pessoas se afastaram da igreja, muitas famílias estão regressando, uma vez que não gostavam de Ramiro e agora com o novo padre tem uma nova oportunidade de exercer plenamente o catolicismo. No entanto, a verdade precisa ser dita, uma cidade como Novo Aripuanã, que está vivendo um processo de transição de governo conturbado, dois prefeitos em menos de dois anos, uma cidade invadida por grileiros de terras, madeireiros, tomada pelo tráfico de drogas, prostituição, violência, a falta de educação, a falta de formação moral e religiosa, a falta de participação da família na vida dos filhos, a banalização do sexo, da morte, da vida, as pessoas matam e são inocentadas na cara de pau dando margem para os jovens se acharem no direito de fazer o mesmo, pois eles viram que uma pessoa matou outra e nada aconteceu, até o banco já foi assaltado e nada aconteceu,
Pessoas que deveriam nos proteger, assegurar nossos direitos, nos ajudar, fiscalizar a lei, fiscalizar o prefeito, proteger as crianças, nada fazem, e o pior é que muitas vezes praticam justamente os crimes pelos quais são pagos para combater, tudo isso acontecendo e ninguém faz nada? Ninguém fala nada? E nessa hora é impossível não se lembrar de Padre Ramiro, pois certamente ele deve estar se remoendo por dentro em saber de tudo isso e não poder fazer nada, deve ter sido difícil também para ele abandonar a sua terra, o rebanho que ele lutou com unhas e dentes para formar, ver as suas coisas se acabando, ver a juventude que ele tanto brigou para não se perder, as famílias que ele tanto lutou para que se fortalecessem e sempre permanecessem unidas, em fim, sabemos que Padre Ramiro não foi nenhum santo, assim como também nunca seremos, ele teve seus erros e seus acertos, e certamente nos deixou muitas lições e muitos exemplos de fé, união, compaixão, perseverança, esperança, liderança, força de vontade, coragem, inteligência, amizade e amor ao próximo, valores que foram plantados ao longo desse 26 anos em que ele ficou à frente da nossa paróquia e que estão implícitos em cada canto e em cada pedaço de sua igreja, é impossível olhar para tudo aquilo e não se lembrar ou não associar ao Padre Ramiro, a verdade é que ele está fazendo falta, Não só como líder religioso, mas também como amigo, conselheiro e defensor dos direitos humanos e do povo de Novo Aripuanã, quem não se lembra daquela passeata organizada por ele para enfrentar o então Prefeito Adiel Santana que na época estava tocando o “terror” na cidade? Em meio à pancadaria, spray de pimenta e gás lacrimogêneo, Padre Ramiro conduzia o seu povo, gritando, vociferando, brigando, ralhando, esperneando, não se calando diante das injustiças, foi ameaçado de morte diversas vezes, foi acusado de muitas coisas, muitas vezes foi julgado e crucificado pelo próprio povo assim como Jesus Cristo um dia já foi, mas nunca desistiu de lutar por eles.
Hoje não contamos mais com sua presença física em nosso município, mas certamente o seu espírito, os seus ensinamentos e a sua lição de vida ainda vão nos acompanhar por muitos e muitos anos, Padre Ramiro faz parte agora de outra comunidade, mas continua à frente do seu povo, o povo de Deus que ele sempre fez questão de agradecer por todas as suas conquistas e realizações, a quem ele tem dedicado toda sua vida, por isso terminamos este texto com um trecho de uma canção de Padre Zezinho que Padre Ramiro gostava muito de cantar em suas missas, procissões e caminhadas:

“O povo de Deus no deserto andava, mas na sua frente alguém caminhava.
O povo de Deus era rico de nada, só tinha esperança e o pó da estrada.
Também sou teu povo senhor, estou nessa estrada,Somente a tua graça me basta e mais nada”...
Até a próxima. Aquiles

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