segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Lembrança da minha terra


Quando estudava na Escola Estadual Guilherme Buzaglo em 94,95 e 96, gostávamos de todos os dias de cantar a musica do Chico da Silva, que eu não me lembro o nome, mas lembro do refrão que ficou inesquecível em minha cabeça: “naquele tempo de menino, ainda tenho no meu peito muita saudade, roda pião, estilingue no pescoço, papagaio pra soltar...” bastava ouvir este refrão que lembrava a minha infância em Novo Aripuanã, dos brinquedos, das brincadeiras de criança, das comidas, da vivencias escolares etc.
Estudar e brincar, esses dos fatores foram essências na formação da minha personalidade, notei que meus filhos não vão viver a mesma infância que eu, até porque os tempos são outros. Não que eu seja saudosista, mas eu sinto falta do futebol na beira do barranco no final da tarde vendo o sol se por, de jogar pião, de brincar com peteca, brincar da “pira”, rouba “bandeira”, do “mata”, e outras brincadeiras ingênuas.
Naquela época – que não é tão distante – era difícil comprar brinquedo então tínhamos que construir os nossos, lembro que eu e minha irmã confeccionávamos, talvez isso tenha moldado o nosso caráter em valorizar tudo que conquistamos. Da lata de sardinha fazíamos carrinhos com rodas de sandália havaianas velha, da lata de conserva e um pedaço de perna manca um trator, do caroço de tucumã uma carrapeta e com pano varias bonecas.
Tive o privilégio de ser vizinho da família do seu Mundinho, e ficava olhando os irmãos confeccionar o boi para o festival no mês de junho, eles andavam em enormes pernas de pau, faziam diversos papagaios de varias formas e cores. Olhava para os papagaios com os olhos brilhando esperando que um dia um daquela caísse no quintal de casa. Claro que exagerávamos como pular do barranco, brincar da “pira” no rio até o olho ficar vermelho, mas não tínhamos a malicia, éramos ingênuos e brincávamos sem intenção de machucar ninguém.
Hoje as crianças aripuanenses não gostam de brincar, andam de cabeça para baixo e dizem que é hip-hop, não dão valor a quase nada, não constrói seus brinquedos e querem tudo pronto e acabado, a maioria não são adeptos de nenhuma religião.
Quando criança ouvia toda manhã de domingo, as musicas da igreja: O trenzinho, lá na terra do contrario, a jibóia e outras. Minha saudosa vó logo cedo determinava que tínhamos que ir a igreja. Passando em frente à igreja católica observei que tinha pouca criança, e isso e reflexo do momento de degradação de nossa sociedade. Às vezes eu brinco com alguns colegas meus e conto uma historia que meu avô contava: Numa certa época um padre antes de morrer expraguejou Novo Aripuanã e foi enterrado de cabeça para baixo. E por isso que em Novo Aripuanã nada dá certo, temos que exorcizar essa crendice.
O mês de junho para mim era a época que eu mais gostava, pois eram realizados as festas juninas escolares, participávamos das quadrilhas, dos bois corre campo, pingo de ouro, da dança do papagaio - que é uma dança típica de Novo Aripuanã e não é valorizada – dos versos do seu Galo e da saudosa Dona Maria José, do medo que tínhamos de pai Francisco, Cazumbá e mãe Catirina, das danças folclóricas e engraçadas.
Lembrança das festas para crianças no Palmeiras e Flamengo aos domingos, das bandas PALMERSON, MAQUINA QUENTE, LIDER, ALIBE (de Manicoré). Lembro que chegávamos às 18 horas e ficávamos até 1 hora esperando afinarem o instrumento. Valia à pena esperar, ouvir Carlos Pinto, Gouveia, Paulo, Naldo, Zé Amaro, Dudé, Nego Surá, Branquinho, Círio, Batista, Nirode e outros que eu não consigo lembrar neste momento.
Tenho 32 anos de idade e sinto muita saudade daquele tempo, sonhávamos muito, pena que não se pode voltar ao passado fisicamente, mas relembrar faz um bem à alma!
Alguns sons são memoráveis como o do padeiro gritando ao amanhecer, da Voz Cabocla, Voz Continental, Voz Municipal e da Voz Paroquial. Dos programas como do Bianeck que ao amanhecer acordava a todos moradores com um som inesquecível de um berrante, som memorável para os alunos que faziam educação física graças a ele que muitos não faltavam. O som do “pau do cão”, do “gambá”, das ladainhas, dos batuques nas esquinas, das orações das 18 horas nos alto-falantes da igreja católica. Todos esses sons são marcantes para população aripuanense! Inconscientemente ficam em nossas lembranças.
Ao amanhecer encontrávamos os vendedores de tucumã lá do bairro da Bolívia, os pescadores como: seu Deoclides, Surubim, Feliciano, Manelito, Rufino, Chaguinha e outros que pescavam tambaqui, pirarucu e diversos peixes, e contavam grande estória de pescador. São personagens marcantes, mas que há de esquecer o cheiro de pão quente do mestre Paraíba, que alastrava por todo quarteirão entre a Rua Getulio Vargas com a Joaquim Andrade. Do fritinho de tapioca da Dona Xandoca na Escola Professor Francisco Sá, do sorvete do seu Newton Aroucha, maquina barulhenta que valia a pena ouvir o barulho e depois deliciar o sabor.
Morei em Manaus e voltei a Novo Aripuanã, não conseguia ir à Manaus Moderna, pois sempre sentia o desejo de volta a terra do tucumã, então evitava, entretanto a experiência de sair e voltar a Novo Aripuanã foram inigualáveis para minha vida profissional e familiar, estudei e conseguir realizar a pós-graduação em artes, e vivenciei muita experiência de vida trabalhando em Manaus pela SEMED/Manaus. Quando eu escrevo sobre Novo Aripuanã sempre eu cito uma frase: “Morar em Manaus é ÓTIMO, mas é uma M..., morar em Novo Aripuanã é uma M..., mas é ÓTIMO!”

Um comentário:

  1. Pow Gilmar, Parabens, parabens mesmo pelas lemranças boas de um tempo bom que não volta nunca mais!!!! Eu vivenciei diretamente esse periodo, do futebol no barranco, do AVANA e depois AJUVA(Lembra?), da quadra de volei do Adiel, do campo dos cachorradas, de acordar o Pé-duro(Jocione) pra educação fisica,de "roubar" jambo do sêo albino.Lebra da suspensão coletiva que nossa turma teve no Guilerme Buzaglo? E a copa GUIDA (deu até policia). Cara são muitas lembranças, pena que não possamos mais fazer isso hj. Parabens parceiro, parabens mesmo. Só pra constar: o nome da musica que cantavamos na praça, junto com a turma é:TEMPO BOM, abraços do amigo Claudemir

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